Friday, May 25, 2007

14

"Como se escrevesse só para uma pessoa."
Espreitou pelo olho direito, turvo, o que há-de ver.
"Ou escrevo só para mim... ou para ninguém."
Mirou atentamente e percebeu que o que há-de vir confunde-se com o que há-de ver num olho turvo.
De sobressalto, num sobressalto lembrou-se da necessidade de mitigar o desejo de viver mais.
"Refrear o desejo, matar a esperança, dominar o medo."
E é como se escrevesse só para uma pessoa. Só. Para mim. Para ninguém.
Suspirou. Soprou sobre si mesmo como se apagasse uma vela.
Anulou-se.
"Como se escrevesse."

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