Tuesday, September 16, 2003

12.


Fotografias.
Fotografias antigas.
Tocou-as e deixou escorregar as mãos pelo papel duro. Mergulhou na tinta desbotada. Memória esbatida do passado.
“A tinta é presente, o papel, duro, é presente. Só a memória é passado.”
Pousou a fotografia no braço do sofá e passou a mão pela cabeça. Duas vezes. Como quem quer escorregar as mãos pela memória.
Os olhos humedeceram. Nostalgia.
“O papel. A tinta. O presente.”
Agarrou duas fotos. Quase as amarfanhou. Passou-as no scanner e viu-as no monitor.
Deixou escorregar, agora, os olhos no écran. Mergulhou na memória do passado, fugindo da tinta e do papel. Depressa sufocou.
“Que disparate! És um parvalhão! E já andas a repetir muitas vezes este insulto…”
O plástico e o vidro do monitor caíram-lhe em cima com o peso de mais de vinte e cinco anos.
Esmagaram-no.